Daniel Jablonski: As Coisas - Janaina Torres

São Paulo Brasil

Daniel Jablonski

As Coisas

Contar a história de uma vida (1985 – 2018) a partir dos objetos acumulados ao longo dos anos é a ideia de As Coisas, de Daniel Jablonski. Catalogando exaustivamente todos os seus pertences fora de uso, acumulados arbitrariamente, o artista repertoria e torna público quase todos seus objetos pessoais, transformando-os em poderosos suportes narrativos e forçando a memória em direções radicalmente imprevistas.

17 OUT – 15 DEZ 2018

PROCESSO

Os mais de 3000 itens, exibidos sem qualquer censura por Jablonski, vão desde roupas velhas a fotocópias de textos de faculdade, passando por objetos de cozinha, livros, catálogos, até fotografias de família e contas, recibos e boletos.

Para além da esfera do consumo, esses objetos também servem como poderosos suportes narrativos.
Preferências musicais são gravadas em fitas cassetes e filmes favoritos em VHS. Ideias são registradas em guardanapos, hábitos alimentares em listas de compras e amores em cartões postais. Alguns objetos, ao contrário, evocam a lembrança de quem os ofertou, como brinquedos, roupas, relógios, e até mesmo móveis. Outros trazem ainda nomes próprios impressos e atestam algo sobre eles, como cartas, e-mails, boletins escolares, contas de luz, laudos médicos e passaportes.
Ao repertoriar e tornar públicos quase todos os seus objetos pessoais, o artista aponta para outras possibilidades narrativas no domínio da expressão pessoal. Diferentemente do que acontece em boa parte das autobiografias, que partem das lembranças (e esquecimentos) dos seus autores, em AS COISAS o artista se utiliza dos objetos para forçar sua memória em direções radicalmente imprevistas.

As Coisas: aproximadamente 3.200 itens pessoais do artista, 32 estantes metálicas, 2 gaveteiros metálicos, 15 tubos de luz, itens de papelaria em quantidades variadas, 2 media players, 1 mural de 10 metros em vinil adesivo e 34 marcações em vinil adesivo (dimensões totais variáveis).
As Coisas: aproximadamente 3.200 itens pessoais do artista, 32 estantes metálicas, 2 gaveteiros metálicos, 15 tubos de luz, itens de papelaria em quantidades variadas, 2 media players, 1 mural de 10 metros em vinil adesivo e 34 marcações em vinil adesivo (dimensões totais variáveis).

A própria ideia de se fazer uma listagem completa dos itens pessoais de um indivíduo foi tomada de um projeto (não-realizado) do escritor francês Georges Perec; ao tentar realizar um projeto alheio, As Coisas sinaliza que qualquer um poderia empreender o mesmo trabalho de memória.

— Daniel Jablonski
Assumindo a forma expositiva de uma grande instalação imersiva, propondo vários tipos de classificação simultâneos, As coisas remete ainda à forma e à função simbólica de um labirinto, que funcionam como poderosas metáforas do sujeito: perder-se e encontrar-se ali é perder e encontrar a si mesmo.
Assumindo a forma expositiva de uma grande instalação imersiva, propondo vários tipos de classificação simultâneos, As coisas remete ainda à forma e à função simbólica de um labirinto, que funcionam como poderosas metáforas do sujeito: perder-se e encontrar-se ali é perder e encontrar a si mesmo.
Os mais de 3 mil itens presentes no local, dispostos em prateleiras, gabinetes e arquivos industriais de metal, se repetem em uma lista descritiva em duas paredes, ocupando quase todo seu espaço, sem margem gráfica.
Os mais de 3 mil itens presentes no local, dispostos em prateleiras, gabinetes e arquivos industriais de metal, se repetem em uma lista descritiva em duas paredes, ocupando quase todo seu espaço, sem margem gráfica.

VISTAS

“Este pânico de perder meus rastros seguiu-se de uma fúria de conservar e classificar. Eu guardava tudo: as cartas com seus envelopes, ingressos de filmes, passagens aéreas, faturas, talões de cheques, prospectos, recibos, catálogos, convocatórias, jornais diários, canetas-marcadoras secas, isqueiros vazios e até mesmo boletos de contas de gás e eletricidade de um apartamento no qual já não vivia há mais de seis anos e, às vezes, passava um dia inteiro a triar e a triar, imaginando uma classificação que preencheria cada ano, cada mês, cada dia da minha vida.”

— Georges Perec, “Os lugares de um ardil”, In Pensar/Classificar, 1985.

CENSO

Formulário do IBGE: 11 folhas A4 coloridas preenchidas à mão por Leonardo Araujo Beserra.
Formulário do IBGE: 11 folhas A4 coloridas preenchidas à mão por Leonardo Araujo Beserra.

Ao analista do IBGE: transcrição do relatório parcial de 17 de outubro de 2018:

Desde o início do presente ano, o entrevistado, Daniel Chueke Jablonski, vem organizando, categorizando e catalogando os múltiplos resíduos materiais acumulados arbitrariamente na trajetória de sua vida. No local visitado, a Galeria Janaina Torres, este entrevistador, Leonardo Araujo Beserra, os encontrou ordenados de três formas diferentes. Primeiro, por ordem cronológica, ano a ano. Segundo, por categorias em ordem alfabética, letra a letra. E, por último, por meio de narrativas gravadas em áudio, feitas a partir de alguns objetos de cada ano (estas, aparentemente, ainda em processo).
O entrevistado não respondeu a nenhuma das perguntas dispostas no questionário. Inversamente, sugeriu ao entrevistador que o preenchesse sozinho, extraindo todas as informações necessárias a partir da análise e da averiguação dos mais de 3 mil itens presentes no local. Estes foram dispostos em prateleiras, gabinetes e arquivos industriais de metal, pintados de preto. E se repetem em uma lista descritiva em duas paredes, ocupando quase todo seu espaço, sem margem gráfica. Há ainda dois aparelhos MP3 com fones em que se pode escutar, a cada faixa do álbum, as narrativas referidas acima. Leia íntegra aqui.

— Colaboração crítica por Leonardo Araujo Beserra na exposição As Coisas, na Galeria Janaina Torres, São Paulo, em 17.10.18

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