A continuidade de formas de vida diversificadas colocada em suspenso pela tensão e vertigem contemporâneas é a linha mestra de Entes, exposição que apresenta uma panorâmica da proposta curatorial da Janaina Torres Galeria para 2024. Em quatro núcleos expositivos, a coletiva apresenta trabalhos que servem, a partir de suas afinidades formais e de pesquisa, como porta de entrada para a pluralidade, a partir de sua própria condição de existência.
09.03.2024 – 27.04.2024
ENTES | Antonio Oloxedê, Caio Pacela, Cibelle Arcanjo, Daniel Jablonski, Kika Levy, Laiza Ferreira, Liene Bosquê, Marga Ledora e Matheus Ribs
Curadoria: Shannon Botelho
Em função do projeto construído para a galeria no ano de 2024, Entes apresenta quatro eixos centrais: Fé e crença, Tempo, Arqueologias e Outras ecologias. Cada eixo agrupa trabalhos que servem, a partir de suas afinidades formais e de pesquisa, como porta de entrada para temas como apagamento, memória, coletividade, religiosidade, natureza e paisagem, que sustentam as investigações artísticas.
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Antonio Oloxedê
Ebun lati okun , 2023
Talisca de coqueiro, couro, búzios, miçangas, espelho e tecido
114 x 32 x 15 cm
Antonio Oloxedê
Òjíṣẹ́, 2021
Couro, búzios e miçangas
63 x 18 x 10 cm
Antonio Oloxedê
Ohun Ijinlẹ Igbo, 2020
Talisca de coqueiro, Miçangas, Couro, Linha e Búzios
108 x 30 x 5 cm
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Caio Pacela
Princípio e fim (série DÉJÀ-VU), 2023
Óleo sobre madeira
40 x 29.40 cm
Caio Pacela
Encanto pelo desencantamento (série DÉJÀ-VU), 2023
Óleo sobre madeira
39.40 x 30 cm
Caio Pacela
Sem Título (série DÉJÀ-VU), 2023
Óleo sobre madeira
40 x 29.50 cm
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Caio Pacela
DÉJÀ-VU XVI (série DÉJÀ-VU), 2022
Óleo sobre madeira
40 x 30 cm
Caio Pacela
O querer e o realizar (série DÉJÀ-VU), 2023
Óleo sobre madeira
42 x 29 cm
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Caio Pacela
Amálgama, 2023
Óleo sobre tela
150 x 200 cm
Para comunicar valores garantidores das existências plurais, não traçamos uma linearidade que discuta os significados que cada trabalho abriga exclusivamente. Ao contrário, quisemos estabelecer uma conexão movente entre obras e artistas, na qual cada componente atua como um agente de discursos e lugares, lutas e posicionamentos, crenças e esperanças.
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Marga Ledora
Retalhos, 2018
Bastão de óleo, grafite e giz aquarelável sobre papel
26 x 36 cm
Marga Ledora
O caminho estreito, 2018
Grafite e giz aquarelável sobre papel
26 x 36 cm
Marga Ledora
O Jardim das Estações (as cinco estações), 2021
Giz aquarelável, grafite, grafite aquarelável sobre papel
50 x 65 cm
Marga Ledora
Sem título, 2021
Giz e grafite aquareláveis e bastão de óleo sobre madeira
21 x 21 cm
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Liene Bosquê
New York I, 2017/24
Monotipia, oxidação de ferro sobre linho, algodão e seda
160 x 270 cm
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Laíza Ferreira
Sem título (da série Territórios Imaginados), 2021
Colagem analógica
14.50 x 21.50 cm
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Matheus Ribs
Fechar os Corpos II, 2022
Óleo e acrílica sobre tela
144 x 197 cm
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Kika Levy
Folhas de Relva (conjunto), 2024
Monotipia
124 x 300 cm
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Todos os entes que fazem essa exposição real narram suas próprias visões e experiências no mundo. Discutimos a vida em constante movimento, suas dores e belezas. Tudo aqui é real, ainda que a artificialidade das imagens diga o contrário, pois onde há fluxo de vida não subsiste o que não é de verdade. Essa exposição se define, por fim, como um libelo contra as formas de dominação, contras as violências materiais e simbólicas, e a favor da perenização das diversas formas de vida – incluindo as que não puderam participar desse projeto.
Antonio Oloxedê
Artista e sacerdote do Ilê Asipà–um dos quatro espaços remanescentes do culto a Baba Egun, manifestação originária do oeste da África e que permanece viva apenas no Brasil–, Antonio Oloxedê emprega elementos do vocabulário imagético yorubaiano na reinterpretação de ferramentas de tradição milenar no culto dos orixás e ancestrais da África Negra, mesclando a ancestralidade ritual, tradição e contemporaneidade. Com taliscas de coqueiro, guizos e búzios, materiais envoltos por significados e simbologias, o artista colabora para a manutenção e continuidade dos cultos afro-brasileiros, inserindo elementos subjetivos como cores vivas e abertas, sem comprometer o sigilo que toca a estrutura das religiões de matrizes africanas, o cerne e fundamento de estruturas sagradas. Oloxedê foi o responsável pelo restauro das obras e mantém a continuidade do legado de seu avô– fundador do Ilê Asipà, artista e pesquisador– Mestre Didi.
Caio Pacela
Bacharel em Pintura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; frequentou cursos livres na EAV Parque Lage entre 2014 e 2016. Por conta de sua história pessoal — sempre ligada a um forte contexto religioso e intensificada a partir do ano de 2020 quando estabelece seu ateliê em uma das salas da igreja evangélica que frequenta com sua família há 24 anos em São Gonçalo —, a espiritualidade passa a ser o campo no qual encontra caminhos possíveis para o desdobramento de sua prática e dentro do que considera suas derivações (fé, culto, oferenda, transcendência e transcendente). Essas são questões fundamentais na percepção das subjetividades e intersubjetividades do mundo que o cerca. É neste momento e neste lugar onde volta seu olhar para o invisível, sendo, as imagens que elege mero subterfúgio e suporte para a construção e o entendimento do que se percebe não somente através dos sentidos, mas o que também o é por intermédio do espírito.
Cibelle Arcanjo
Cibelle Arcanjo, brasileira, 31 anos, é artista visual e pesquisadora, indígena mestiça (de família inter-racial e ancestralidade afro-luso-líbano-indígena) criada em contexto urbano na comunidade do Morro do Preventório, favela construída no alto de uma montanha e de frente para o mar da Baía de Guanabara na cidade de Niterói no Rio de Janeiro. Bacharel em pintura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EBA/UFRJ), dedica sua criação pictórica aos atravessamentos políticos e culturais que afetam corpos socialmente marginalizados e suas subjetividades, vazando territórios pré estabelecidos, dissolvendo fronteiras, evocando imaginários e figuras significativos, duplamente simbólicos e reais, também (re)apresentando e afirmando cosmovisões mais coloridas e generosas na inter-relação entre corpos e ambientes.
Daniel Jablonski
Sua produção multifacetada, conjugando teoria e prática, examina a forma como as identidades individuais são moldadas pelos discursos sociais e seus numerosos documentos. Interrogando sua própria experiência à luz de diferentes hipóteses e teorias, Jablonski aspira a produzir obras de arte que possam funcionar como verdadeiros “estudos de caso”.
Kika Levy
Kika Levy expande as possibilidades da gravura em um processo contínuo de experimentação que abandona a clausura da perfeição, do padrão de cores e verossimilhança entre os componentes de uma série. Adotando um fazer contínuo, em que acolhe o erro, o acaso e o desvio de caminho, a artista constrói um grande corpo de sobreposições de imagens, resíduos de impressões, recortes e sobras em uma obra que se consolida em constante mutação
Laiza Ferreira
Graduada em Licenciatura em Artes Visuais na UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte). A artista parte da ficção, temporalidades não-lineares, memórias ancestrais e recriação de mundos através de fragmentos imagéticos ressignificados. Utilizando a colagem de fotografias, analógica ou digitalmente, apropria-se de imagens encontradas em arquivos pessoais, garimpos e sites de busca para a criação e reconexão com sua história e origens, num processo de decolonização da imagem, do olhar e linguagem fotográfica. A carga simbólica de retratos de diversos povos e etnias, paisagens e elementos astronômicos mesclam-se a resíduos, vestígios, pixels e granulações de arquivos de diferentes resoluções. Possui trabalhos expostos em meios físicos e digitais no Brasil, Colômbia e Espanha. Em 2020, foi ganhadora do Prêmio Margem Fotografia Potiguar e indicada ao Prêmio Pipa 2021.
Liene Bosquê
É mestra em Artes Visuais pela Escola do Instituto de Arte de Chicago, graduada em Artes Visuais pela UNESP e em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Em sua prática multidisciplinar, propõe explorações e experiências sensoriais através de relações entre sujeito e espaço, ativando percepções sobre a memória e a história. Sua pesquisa se desdobra em diversas linguagens como a escultura, instalações, site-responsive, e performance, investigando a transitoriedade de espaços e a transformação de elementos arquitetônicos rígidos e estáticos em superfícies frágeis. Possui Importantes prêmios e residências em sua carreira, além de ter trabalhos expostos em importantes instituições como MoMA PS1, Museum of Contemporary Photography- Chicago; Frost Art Museum- Miami; Carpe Diem em Lisboa- Portugal, entre outros.
Marga Ledora
Formada em Linguística pelo IEL/Unicamp, Ledora é dona de um repertório visual que incorpora forma e conceito, trafegando entre o desenho e a pintura, tendo abarcado também a gravura em metal e a fotografia ao longo de sua carreira.
Em séries de desenhos recentes, que constituem o núcleo de sua produção atual, Ledora cria a partir de casas (e seus detalhes), objetos e temas botânicos – como pedras, plantas e flores, em formas que ora se expandem, ora se contém, estruturando-se em uma geometria parcial, de vazios e respiros em meio a tons outonais.
Sua obra se oferece como introspecção e meditação, em meio à turbulência obsessiva de imagens e significados em disputa que dominam o mundo atual.
Matheus Ribs
Artista carioca, nascido em 1994 na Rocinha. Filho de pai maranhense e mãe cearense, formou-se em Ciências Sociais, onde ingressou no movimento estudantil e iniciou sua produção como cartunista e ilustrador. Enquanto realizava sua pesquisa acadêmica em Educação Escolar Indígena, passou a experimentar outros suportes, desenvolvendo pinturas que cruzavam as lutas sociopolíticas e ambientais no Brasil, com o resgate de sua ancestralidade. Enquanto estabelece confluências entre a espiritualidade afro-brasileira e ameríndia, destacando elementos dos ritos, cultos, trajes e grafismos, Ribs também denuncia os impactos da violência colonial e do racismo ambiental na contemporaneidade . Em 2022, hasteou sua bandeira “Curar a Terra e a Folha” no Museu de Arte do Rio, em 2023 participou das exposições Histórias Brasileiras no MASP e Um Defeito de Cor no Museu de Arte do Rio, em 2024 participa de Encruzilhadas da Arte Afro Brasileira no CCBB-SP.