Tendo apenas recortes exibidos anteriormente, com amplo reconhecimento, em capitais como Paris, Montreal, Dubai e São Paulo, a extensa obra de Pedro Moraleida ganhou, em 2017, uma visão mais ampla de seu conjunto e sua força, na exposição Faça Você Mesmo Sua Capela Sistina, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, de setembro a novembro de 2017. Na sua cidade natal, o mineiro Moraleida, falecido precocemente em 1999, aos 22 anos, teve exibidas 131 pinturas, 48 desenhos, quatro esculturas, além de textos e vinhetas musicais de sua autoria, com curadoria de Augusto Nunes-Filho, atraindo um público recorde de vinte mil pessoas.
O caráter transgressor evidente de seu trabalho encontrou, por ocasião da mostra, um Brasil em ebulição, em que forças reacionárias miraram o campo cultural para impor uma luta política baseada em censura e difamação à produção artística. A obra de Moraleida não ficaria incólume aos ataques, despertando, no entanto, amplas contra-reações das camadas sociais comprometidas com a força viva da cultura, a diversidade e a liberdade.
Não é exagero dizer que a obra de Moraleida brilhou com destaque em meio à ameaça das trevas de 2017. Como reforça o bem-vindo catálogo da exposição, recém-lançado, trata-se de mérito incontestável da força estética do trabalho do artista, que está na base de sua força cultural e política.
Selecionamos, a seguir, imagens do catálogo de Faça Você Mesmo Sua Capela Sistina, além de trechos dos textos de apresentação e da curadoria.
Pedro Moraleida foi devorado pelo século XX. Na voragem o seu fecho, o século passado terá entendido que o jovem artista trazia em si todo o século XXI e já o tinha vivido plenamente. Reteve-o na soleira da nova era para guarda-lo só para si. Antecipador, Moraleida experimentou quase tudo que se projetou e se multiplicou nestas décadas iniciais. E o fez com a exuberância e a velocidade de quem é íntimo da vertigem.
Angelo Oswaldo de Araújo Santos, Secretário de Estado de Cultura de Minas Gerais
No curto intervalo de duração de sua atividade artística, Pedro Moraleida Bernardes dedicou-se ao exercício diuturno, intenso e pleno de uma corrosiva, irreverente e determinada iconoclastia. O desmesurado dessa produção atinge tal dimensão que é impossível não vislumbrar nela uma quase imperativa compulsão a exigir sempre, e mais, o melhor dele. Moraleida elegeu alguns temas como objeto e alvo principal. A complexidade dos questionamentos sobre religião. O intricado das relações entre poder, política e ideologia. As conexões dos fundamentos do saber, da ciência e da filosofia. As múltiplas formas de expressão da sexualidade, mirando condutas, hábitos e costumes historicamente consolidados na sociedade. Augusto Nunes-Filho, Curador
Reencontrar a obra de Pedro Moraleida, no seu quadragésimo ano, é celebrar a vitalidade de um legado que continua a iluminar a escalada do tempo. Angelo Oswaldo de Araújo Santos
O gesto de Moraleida prescinde de retoques: é preciso, direto, assertivo e assertivo. Sem rodeios, seca, objetiva, suja. Características atribuídas à arte bruta também podem ser vinculadas ao trabalho de Moraleida. Ele provoca, ainda, um deslocamento no próprio conceito de arte bruta ao incidir seu foco não mais sobre o artista, mas sobre a própria obra de arte. Esse reenquadramento confere mais consistência e coerência à obra do jovem artista; ao invés do segregado ou excluído social confinado em instituições totalitárias, ou do grafiteiro ocupante do espaço urbano, o jovem desenvolve um trabalho (no seio da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais) que dialoga em fina sintonia com Artur Bispo do Rosário ou Jean-Michel Basquiat. Augusto Nunes-Filho
Mais sobre Pedro Moraleida
Site do artista (em flash)
Página do artista (Janaina Torres Galeria)