Uma reflexão cultural e estética sobre o papel e a influência de elementos psicoativos na cultura humana é traço marcante do trabalho de Stephan Doitschinoff. Obras que abordam essa temática poderão ser vistas na individual Estaremos Aqui Para Sempre, que a Janaina Torres Galeria exibe de 14 de agosto a 05 de outubro, em São Paulo.
Na instalação Interventu – Visão Remota, por exemplo, que integra a exposição, Ayahuasca, o cogumelo Psilocibe cubensis, o cactos Peyote (Lophophora williamsii) e a planta Morning Glory (Ipomoea) são esculpidos em parafina, como relevo de livros abertos e palmas da mão – uma alusão às origens milenares da relação entre psicoativos e os seres humanos, e também à presença intrínseca desses e outros elementos no cotidiano ainda hoje, embora privados de aceitação institucional.
Em Cipó dos Espíritos (Ayahuaska), a planta é esculpida em relevo em uma obra feita de rapadura. Já a tela Jurema Preta com Enteógenos II (2015) integra plantas e fungos na própria figura representada, à maneira de um Arcimboldo lisérgico e tropical.
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Doitschinoff é um artista que não se furta a encarar os grandes temas da aventura humana, sejam religiosos, políticos e comportamentais. Produz uma arte energética e que busca a transcendência – e aí reside outra maneira de enxergar a presença de psicoativos na sua produção.
Em questão, nestas obras, estão a junção de elementos que nos conduzem a um outro estado metafísico e espiritual – sejam sagrados ou profanos, sensoriais ou religiosos.
Perguntamos a Stephan Doitschinoff o papel dos elementos psicoativos na sua arte. Eis o depoimento do artista, a seguir.
“As plantas e compostos psicoativos tem uma influencia enorme no mundo em que vivemos, de certa forma moldaram e continuam moldando de diversas maneiras a cultura e realidade. A mídia muitas vezes faz parecer que essas substancias estão restritas a uma camada da sociedade ou uma subcultura underground, mas na verdade não estão.
A medicina moderna existe, em grande parte, graças a essas substâncias. A guerra moderna da mesma maneira, também não existiria sem essas substancias. Por exemplo: existem inúmeros relatos de diversas épocas que contam que todas as vezes que uma grande guerra se anunciava os governos liberavam o cultivo de papoula em larga escala; não existe guerra sem morfina, e não existe morfina sem ópio.
Elas compõem a base e a fundação da maioria das religiões que hoje são praticadas no mundo. Até mesmo configuração política corre sendo continuamente afetada por essas substâncias, nosso relacionamento com a vida, com a diversão, com a espiritualidade ou até mesmo com o acordar de manhã – da cannabis ao café, do Xanax ao Stilknox, somos influenciados por
essas substâncias.”
O fungo Psilocybe Cubensis, em relevo sobre livro de parafina, integra a instalação Visão Remota