Dos trabalhos de Jeane Terra emergem as subjetividades da memória, as nuances da transitoriedade e os destroços de um tempo, em registros de intensa carga visual que refletem sobre o apagamento urbano e os efeitos da ação humana sobre a paisagem, o clima e a vida na terra.
O trabalho da artista, cujo nome se confunde com o alcance de sua poética, se desenvolve nos suportes da pintura, escultura, fotografia e videoarte. Muitas vezes autorreferencial, Jeanne Terra gravita a usina ruidosa, de onde reminiscências vêm à superfície, para tecer um panorama das principais questões do nosso tempo. Assim, a partir da vivência da demolição da casa em que viveu na infância e com a aproximação do barroco mineiro, a artista percorre cidades e lugares em vias de desaparecimento. São trabalhos que trafegam entre registros de um tempo passado, a corrosão do tempo e a urgência do contemporâneo. Como na série “pele de tinta”, técnica que desenvolveu a partir da mistura de tinta acrílica, aglutinante e pó de mármore, obtendo um tecido cromático que, composto em múltiplas e finas camadas, ganha um aspecto de pele. A artista utiliza as “peles” de tinta que, recortadas em uma miríade de pequenos quadrados, compõem o grid que estrutura suas pinturas, nas quais são costuradas – valendo-se da técnica em ponto cruz, herança da avó materna -, ou coladas na superfície da tela. Uma espécie de corpo-pintura, constituída entre o bordado imemorial e a instantaneidade do pixel. Como destaca o crítico e curador Aguinaldo Farias, Jeane Terra “propõe que toda arquitetura é em essência autodestrutiva, que toda construção traz consigo sua dissolução, que tudo que fazemos é efêmero, e que nossos gestos primam pela negatividade, ainda que insistamos em valorizar o contrário”.
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