Mais que um breve panorama da carreira de Andrey Guaianá Zignnatto, Terra Braba: Co Yby Ore Retama é uma celebração de memórias e novos caminhos. Entre 2021 e 2022, o projeto Co Yby Ore Retama ocupa espaços culturais de São Paulo. História e ancestralidade se espalham e semeiam a arte e reflexão numa metrópole que constantemente apaga suas narrativas originárias. Entretanto, essas narrativas possuem raízes profundas e disseminadas, adentram o solo e dizem em alto e bom som: “Esta terra é nosso lugar!”. Um lugar anterior à própria ideia de arte, suas instituições e agentes — e na própria região da nova sede da Janaina Torres Galeria, que a exposição inaugura, a Barra Funda, o povo Guaianá já fazia sua morada.
Dos tijolos aos grafismos, percebemos neste momento a junção entre matéria e memória. A essência e a história do artista mesclam-se ao material, que, por meio de suas vivências em canteiros de obra e olarias, torna-se apto a receber a estrutura da construção e a resistência das aldeias. As linhas e a engenhosidade inventiva dos tijolos e sacos de cimentos reverberam o desejo de reorganização subjetiva e poética. Com a tradução de Co Yby Ore Retama para o português — “Essa terra é nosso lugar” —, reforçamos a abertura de um espaço para todes. Que esse lugar seja nosso, maior em sonhos e tamanho, mas com o mesmo desejo de estarmos sempre perto.
Terra braba era a maneira como o avô do artista, mestre de obras do qual Zignnatto absorveu diversos ensinamentos quando assistente e aprendiz, referia-se à cidade de São Paulo, cidade até hoje repleta de contradições e desigualdades. “Brabo” também é aquele que, com sabedoria, luta e resiste, articulando sua força ao afeto e à sensibilidade.
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Andrey Guaianá Zignnatto
Xe Rapó, 2020
Impressão em pigmento sobre papel algodão
40 x 60 cm
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Andrey Guaianá Zignnatto
Sem título (Série Anomalias), 2018
Linha de algodão, impressão sobre papel
58 x 40 x 2 cm
Andrey Guaianá Zignnatto
Sem título (Série Anomalias), 2018
Linha de algodão, alfinete e impressão sobre papel
42 x 30 x 5 cm
Andrey Guaianá Zignnatto
Sem título (Série Anomalias), 2018
42 x 30 x 5 cm
Andrey Guaianá Zignnatto
Andara (Abraçado) 1 , 2021
Sementes de açaí, nylon, ferro, madeira, vidro
90 x 65 x 7 cm
Andrey Guaianá Zignnatto
Andara (Abraçado) 2, 2021
Sementes de açaí, nylon, ferro, madeira, vidro
90 x 65 x 7 cm
Andrey Guaianá Zignnatto
Andara (Abraçado) 3, 2021
Sementes de açaí, nylon, ferro, madeira, vidro
90 x 65 x 7 cm
Andrey Guaianá Zignnatto
Mestiçagem #12, 2021
Urucum com resina acrílica,cerâmica e barbante sobre papel de saco de cimento
390 x 180 x 5 cm
Andrey Guaianá Zignnatto
Sem título (Série Guilhotina ), 2017
Tijolo baiano cerâmico cortado e agrupado
137 x 52 x 20 cm
Andrey Guaianá Zignnatto
Guilhotina (Série estudos para uma nova proposta de interpretação do espaço físico), 2016
Tijolo baiano, elástico e parafuso
200 x 60 x 30 cm
Andrey Guaianá Zignnatto
Alicerce I, 2020
Cerâmica e concreto
44 x 23 x 20 cm
Andrey Guaianá Zignnatto
Terra sobre Terra 5, 2021
Cerâmica
29.70 x 21 cm
Andrey Guaianá Zignnatto
Sem título #7 (Série Empilhamento), 2018
Bloco cerâmico
60 x 60 x 20 cm
Andrey Guaianá Zignnatto
Sem título ( da série Manta ), 2017
Mini cobogó cerâmico, cimento, massa epoxi, madeira reciclada usada por pedreiros
80 x 55 x 55 cm
Terra Braba: Co Yby Ore Retama traz passagens da trajetória do artista autodidata, que vão de suas experiências materiais ao empilhar e derreter tijolos, subvertendo a rigidez das construções, à exploração da fragilidade do espaço e dos tensionamentos políticos e sociais em diversas regiões do mundo, além do aprofundamento e resgate de sua própria identidade como artista e indivíduo.
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Andrey Guaianá Zignnatto
Bandeira, 2019
Linogravura
65 x 100 cm
De origem indígena, descendente de povos Tupinaky’ia e Gûarini e neto de um pedreiro, do qual foi ajudante dos 10 aos 14 anos de idade, além de ativista social, Zignnatto incorpora sua biografia ao fazer artístico, unindo arte e vida e integrando história, memória e território à matéria e à forma dos trabalhos. Sacos de cimento, tijolos, juntas de argamassa e fragmentos e sobras de intervenções urbanas tornam-se, em suas mãos, matéria prima para uma ação artística que se propõe a ir além do processo de imitação, recriando mundos, estruturas e sistemas, em uma proposta artística de invenção radical.
+ maisAo prestar tributo às correntes estéticas — do construtivismo e minimalismo à arte conceitual —, por exemplo, o artista as impregna da experiência de estar no mundo, abrindo fendas e brechas, concretas e imaginárias, para estabelecer novos desdobramentos estéticos que sinalizam também caminhos de reconfiguração identitária e social. Se, em sociedades periféricas, “tudo é sempre construção e também ruínas”, como diz em uma de suas obras, Zignnatto, com extensa atuação internacional, não hesita em intervir, para propor, equalizando em sua arte forças de universos distintos e complexos, como o urbano e o indígena.