A Janaina Torres Galeria tem o prazer de anunciar Eclipse, exposição individual de Feco Hamburger, em exibição em seu espaço na Barra Funda, em São Paulo. Com curadoria de Icaro Ferraz Vidal Jr., a mostra traz trabalhos inéditos do artista, em diálogo com parte de sua produção, ampliando o foco de investigação e o alcance de sua poética.
Ao longo de mais de 20 anos de carreira consistente, com obras no acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Coleção Itaú de Fotografia Brasileira e na Biblioteca Nacional da França, Hamburger chama atenção para o caráter especulativo da fotografia, ao utilizar dispositivos, processos e protocolos fotográficos para a modelagem do mundo, ao invés de apenas registrá-lo. Em Eclipse, o artista avança na arquitetura de uma cosmogonia própria — Hamburger é exímio artesão de galáxias —, reafirmando seu interesse em discutir não apenas a natureza e a ciência, mas também tensionar a fotografia enquanto linguagem.
Em novembro deste ano, ainda haverá a inauguração de uma galeria permanente do artista, chamada Fenômenos no Mundo, no SESI Lab, em Brasília, projeto que busca promover a conexão entre arte, ciência e tecnologia. A iniciativa foi desenvolvida em parceria com o Exploratorium, referência mundial entre museus de arte e ciência, localizado em São Francisco, na Califórnia.
“O uso da fotografia por Feco Hamburger aproxima-o de figuras como Eadweard Muybridge e Étienne-Jules Marey”, pontua Icaro Ferraz Vidal Jr., atribuindo às imagens de Hamburger impulso similar aos dos pioneiros dos estudos do motion picture e do uso da imagem fotográfica como instrumento de conhecimento, para além do potencial documental, expressivo e representacional. Essa é a razão pela qual o curador considera a arte de Hamburger uma “fonte incessante de maravilhamento”, que nos convoca “à difícil experiência de ver pela primeira vez, em uma época marcada por uma avalanche de imagens que domestica o olhar, reduzindo a visão ao reconhecimento”.
Obra síntese da poética de Hamburger é, justamente, Eclipse 7, que dá nome à mostra. Enigmática, a imagem não foi gerada a partir da observação do fenômeno astrológico, no céu. Ao escanear uma folha de acetato com uma perfuração circular, o artista obtém a imagem pretendida, recriando, no ambiente de estúdio, a aparência do fenômeno — em que os pontos de poeira sobre a superfície do scanner produzem, adicionalmente, no resultado impresso, uma alusão às estrelas do firmamento.
A qualidade técnica e a impecabilidade do acabamento do trabalho de Hamburger — além, evidentemente, do alinhamento conceitual — fazem com que Eclipse 7 dialogue em perfeita consonância com trabalhos como Xingu Áries e Star Trail. Nelas, o artista emprega, em maior ou menor grau, o seu estoque de experimentos e técnicas de fotografia para alterar, nesse caso, imagens captadas de fenômenos naturais.
“Em geral, o momento que eu fotografo, o clique, é o momento da colheita ou da produção de matéria-prima, que será trabalhada, compreendida, até atingir sua forma final. A experiência fotográfica que faz existir aquela imagem é o que me atrai. Existem certas coisas que só podem existir fotograficamente. Como esse eclipse, que não é um eclipse”, enfatiza Feco. “Meu trabalho é a materialização de um sonho de mundo, de um desejo de mundo”, conclui.
Nesse contexto, a obra Ovo Galado, com sua dose de cotidiano e mistério — identificamos, na obra, o ovo fértil, galado mesmo, porém suspenso, no entanto, numa solução que não sabemos exatamente o que é — funciona como um círculo que se fecha, ou que se abre, para a obra do artista, delineando, em ambos os casos, os contornos de um universo. Este é o universo do artista e nele, como revela a mostra Eclipse, Feco Hamburger está cada vez mais à vontade para erguer seu edifício poético, seja a partir do cosmos observado no céu, pela janela, ou disposto sobre a pia da cozinha.