Noites em Claro, série de fotografias de Feco Hamburger, acaba de ter trabalhos incorporados à recém-inaugurada coleção de fotografia brasileira da Biblioteca Nacional da França (BnF). A coleção contempla trabalhos de fotógrafos como Sebastião Salgado, Miguel Rio Branco e Geraldo de Barros.
Em um total de 40 fotografias, de raro impacto visual, Noites em Claro capta, em registros de longa exposição, o acúmulo da luz existente, mas não visível aos nossos olhos, em um único fotograma, imprimindo na película o registro do tempo – diferentemente do olhar humano, que registra senão instantâneos.
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Como parte do projeto da BnF, o curador Ricardo Fernandes criou a exposição Terra Brasilis, um recorte sintético e significativo da coleção da biblioteca, que ocupou de novembro a dezembro o Marché Dauphine, em Paris.
Em 2004, Noites em Claro ganhou mostra na Pinacoteca do Estado de São Paulo, que também contempla obras da série no acervo, com curadoria de Diógenes Moura. Um trabalho que ostenta “uma identidade tão serena que ultrapassa a linha do tempo”, como define o curador.
“Creio que nos cabe muito mais que observar”, diz Feco, sobre a série, “mas nos relacionar, perceber, admitir, pensar – é o respeito à experiência, eu diria, aí incluída a contradição toda que acontece ou pode acontecer na passagem do tempo”.
Para Diógenes Moura, trata-se de explorar o “mimetismo do presente”, em um trabalho que “enquadra os delicados grafismos das estrelas num firmamento onde riscos e raios atestam que no universo ‘ninguém’ dorme. Transforma situações; inverte a arquitetura; imprime uma abrangência de cores tão independente quanto sutil; abre janelas; cria expectativas para mostrar que, tanto no campo quanto na cidade, uma constelação se revela com a mesma grandeza e simplicidade, para mais uma vez anunciar aos homens sua presença tão próxima e tão desconhecida”.
Vale assinalar como Noites em Claro sinalizou um caminho profícuo para a produção do artista. Se não um ponto de inflexão, ao menos a síntese transitória de um percurso que iria radicalizar uma pesquisa sobre a “transitoriedade do imutável ou, em última instância, sobre o homem e a impossibilidade de eternizar-se”, como observa Tadeu Chiarelli, em texto sobre a mostra Sobre a Permanência, de Feco Hamburger, no Centro da Cultura Judaica, em São Paulo, em 2009.
Leia texto de Tadeu Chiarelli sobre a mostra Sobre a Permanência aqui.