Três perguntas para Jordi Burch - Janaina Torres

São Paulo Brasil

Três perguntas para Jordi Burch

9 de agosto de 2017 | 09:11

Artista do deslocamento, seja entre linguagens, percepções e paragens, Jordi Burch é dono de uma fotografia culta e pessoal. Fizemos três peguntas ao artista catalão, hoje baseado em São Paulo, sobre suas escolhas e sua obra.

Pergunta:  Afinal, você é português ou espanhol? E o que isso diz sobre sua fotografia?
Jordi Burch: Diz mais sobre a minha fotografia o fato de ter nascido do que propriamente o lugar onde nasci. Quando a minha avó soube que a minha mãe estava grávida de mim, rapidamente pegou um trem de Lisboa para Barcelona e logo a minha mãe estava deitada numa maca, pernas abertas, na iminência não de um crime – sou favorável à lei do aborto – mas de uma tragédia pessoal. Tenho por isso um grande apreço pelo tema vida e, consequentemente, pela sua finitude. Somos os únicos animais com consciência do fim, inevitavelmente isso altera todas as paisagens, objetos, tensões e relações.

Jordi Burch, sem título (da Série Havia sol e éramos novos), 2014. Jato de tinta sobre papel Fine Art, 60 x 50 cm

Seus temas são contemporâneos, reais, provocadores, mas contêm um arcabouço clássico. Isso é europeu?
O referencial, clássico ou mesmo contemporâneo, são um ponto de partida para trabalhar um tema. O suporte foi sempre mais sujeito numa obra do que o tema, porque o tema, ao longo dos séculos, não se alterou tanto. Quando o Duchamp vira um urinol ao contrário e o desloca do seu lugar comum, ele não está a falar do urinol. O mesmo se passa no quadro branco sobre um fundo branco do Malevich. O que se
trata ali são rompimentos da linguagem, deslocamentos que, de alguma maneira, falam das nossas fragilidades, da nossa mutação, das sutilezas da vida. Essas referências são como um alfabeto necessário à produção, mas não creio que seja um alfabeto europeu e sim universal.

Por que o Brasil? Interfere na luz da sua fotografia? E no que mais?
O Brasil acontece por que, não sendo eu daqui, o País acaba por me dar um mistério que os meus lugares de sempre já não contemplam. Os lugares que eu já conheço bem, são, digamos assim, pornográficos – o que não é necessariamente mau – ao passo que os que eu não conheço, são eróticos – o que é necessariamente bom – carregados de novas percepções, fantasias, e que me dá o já dito deslocamento que as obras também possuem; eu quis fazer o meu rompimento com o que já era a minha linguagem. O que me agrada na luz, em qualquer luz, é senti-la no corpo. Ela aquece-me. Mas não penso na luz como matéria de trabalho – claro, ela está sempre lá – mas o que me interessa na imagem, não é o descritível, nem o desenho que a luz, e a falta dela, podem sugerir, mas sim o que uma imagem arrasta, o que não está lá. Interessam-me as tensões, os pesos, as irregularidades do material, da película, do papel, do corte, repetição e do que isso pode comunicar, que talvez de outra maneira, para mim, seria indizível.

Mais sobre Jordi Burch:

Página do artista: Jordi Burch  (Janaina Torres Galeria)

As durações do rastro (Revista Zum)

O rosto da paisagem (Museu Afro Brasil)

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