A cultura islâmica como referência e a expansão de visões artísticas e a convergência de culturas. Essa é a ideia curatorial da mostra Horizon, promovida no Sharjah Islamic Arts Festival (SIAF), que acontece nos Emirados Árabes Unidos (até 19 de janeiro). Esse é o contexto do trabalho Massa Preta, exibido por Andrey Zignnatto, único artista brasileiros entre os 40 participantes de 23 países que exibiram trabalhos em Horizon.
Em Massa Preta, Zignnatto ocupou o espaço expositivo uma quantidade abundante de fitas de tecido na cor preta produzidas tendo o petróleo como matéria-prima. Fixadas ao teto da galeria, com cerca de 4 cm entre elas, as 17.500 fitas de 280 cm de extensão cada criam um ambiente compacto e poroso ao mesmo tempo, em que o espectador é convidado a entrar – num ambiente de escuridão quase total.
“Invasão” talvez seja uma palavra apropriada para descrever a experiência do espectador com a obra de Zignnatto, refletindo a visão do artista a partir da ideia central de Horizon.
“A questão que mais me chamou a atenção sobre os Emirados e que pode se observar em outros países da região (Qatar, Bahrein e Arábia Saudita) é o choque das antigas tradições culturais local com a invasão da cultura contemporânea ocidental e os efeitos deste choque em sua sociedade” diz o artista. “E o petróleo é a chave para esse choque cultural, que tem provocado efeitos imprevisíveis na cultura dos povos árabes. Isso pode ser observado de maneira nítida no comportamento dos mais jovens árabes. O índice de mortes por acidente de carro, drogas, doenças sexuais, entre os jovens cresceu vertiginosamente”.
A resposta do artista ao desafio proposto em Horizon é um encontro – ou choque – entre uma certa tradição neoconcreta da arte latino-americana e o que identifica como problema central da sociedade em que Massa Preta se insere: o petróleo e seus efeitos culturais, políticos e sociais.
Assim, se em Jesus Soto ou Helio Oiticica a experiência do espectador com a obra de arte é a expansão (da visão, dos sentidos, da relação corpo-obra ou mesmo da obra-instituição), em Massa Preta temos o movimento oposto: um corpo de obra que turva a visão e compromete a direção do movimento, induzindo o espectador a uma rota não definida em um ambiente tomado pela matéria (petróleo) e imerso em escuridão.