Conversa com Sandra Mazzini, destaque da nova pintura - Janaina Torres

São Paulo Brasil

Conversa com Sandra Mazzini

5 de outubro de 2017 | 11:41

Sandra Mazzini, que expõe sua safra mais recente de pinturas na Janaina Torres Galeria

A exuberância da pintura de Sandra Mazzini, jovem destaque na pintura brasileira, ocupa as paredes da Janaina Torres Galeria, na exposição Como os rios correm para o mar,  entre 21 de outubro e 16 de dezembro. Nessa conversa, a artista fala sobre memória, técnica, gesto e temperamento, elementos de uma obra que dialoga com a tradição pictórica e os desafios contemporâneos da imagem digital.

Pergunta: Há uma exuberância de cor e de temas da natureza nas suas pinturas. Como enxerga o Brasil nelas?
Sandra Mazzini: Os temas nos últimos dois anos caminharam muito na direção de um registro de paisagem, algumas com conotação sensível, em que construo cenários que se relacionam diretamente com memórias de infância, das técnicas de cultivo que observava meus avós fazendo com tanta naturalidade e que hoje parecem tão distantes e até um pouco surreais (a ideia de ensacar cuidadosamente fruto por fruto das árvores em uma plantação, por exemplo), outras com a construção de imagens de natureza onde, mesmo que nelas não existam o elemento concreto e urbano representado, ele está presente na construção das grades, está impresso no entendimento da imagem, como uma lente. É difícil traçar uma narrativa neste momento, mas intuo que esse conflito é um ponto de interesse que pode se intensificar como assunto com o passar do tempo.

Como os rios correm para o mar, 2017, Óleo sobre tela, 190 x 260 cm

Você vai da abstração geométrica ao hiper-realismo, com toques cibernéticos. Tudo vale hoje para a pintura?
Acredito que são reflexos da forma como nos relacionamos com a imagem hoje. Com todos os instrumentos disponíveis para uma rápida edição das imagens, é muito dificil que nos relacionemos com elas de forma passiva. Faça um teste, jogando um titulo de uma fotografia famosa em um site de pesquisa de imagem e você verá inúmeras versões da mesma fotografia; em uma, a pessoa aumentou o contraste da imagem; outro encurtou as bordas; outro deixou ela mais quente e avermelhada; outro, mais fria. São tantos filtros e versões que é difícil dizer qual delas se aproxima mais da original. Acredito que minha relação com a pintura esteja permeada por essa curiosidade com o tempo em que vivemos, por essa manipulação fragmentada de natureza caleidoscópica.

Tem um método de composição? Qual?
Os métodos se renovam e variam o tempo todo. Mas, fundamentamente, a técnica de quadricular o espaço para projetar as imagens nas telas é uma base que está presente em quase todos os trabalhos. É uma técnica muito antiga, que costuma ser empregada hoje em desenhos gráficos. Foi uma solução técnica que encontrei e a partir do momento que não a oculto ao longo do processo ela se torna assunto da pintura.

Sandra Mazzini, Sem título, 2017, óleo sobre tela, 150 x 180 cm

Você produz muito, e telas imensas e muito detalhadas. Como é a sua rotina?
Minhas pinturas demandam bastante tempo e acredito que de certa forma elas falam sobre tempo. Acredito que fragmentar a imagem evidencia isso. O resultado não é fluído, é cheio de quebras e recortes não lineares, onde um espaço com um tratamento mais delicado faz fronteira com um gesto mais brusco, onde uma coloração de entardecer pode ser vizinha de um tom bem claro da manhã. São pedaços de temperatura e temperamento, como um quebra-cabeça. A rotina no ateliê é muito intensa, acho que tenho alguma coisa de uma prática um pouco mais antiga, dos artistas que se isolavam nos seus espaços de produção. Digo mais antiga porque hoje vemos artistas com práticas mais dinâmicas, que não passam meses no ateliê porque pesquisam de formas novas e diversas… Acho que cada trabalho acompanha também uma conduta, uma forma de estar no mundo.

Se você pudesse passar horas conversando com um artista que admira, com quem seria?
Desde muito nova gosto muito dos trabalhos do David Hockney; adoraria conversar com ele. Mas há tantas pintoras e artistas incríveis que gostaria de conversar também e que infelizmente não estão mais vivas… Agnes Martin, Georgia O’Keeffe. Dificil escolher.

O que você lê no momento?
Hilda Hilst. um livro chamado “Tu não te moves de ti”.

Sandra Mazzini, Sem título, 2017, óleo sobre tela, 120 x 180 cm

Mais sobre Sandra Mazzini:

Nascida em 1990, Sandra Mazzini é formada em Artes Visuais pela UNESP. Já participou de exposições coletivas como Um Desassossego, na Galeria Estação, e o Quarto Salão de Ribeirão Preto, no Museu de Arte de Ribeirão Preto. Atualmente, trabalha e vive em São Paulo.

Links:

Página da artista – Sandra Mazzini (Janaina Torres Galeria)

Como os rios correm para o mar (página da exposição)

Sandra Mazzini (@sandramazzinim) no Instagram

 

 

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