O olhar abissal e feminino em Êxtase, coletiva de Giulia Bianchi, Mirela Cabral e Paula Scavazzini - Janaina Torres

São Paulo Brasil

O olhar abissal e feminino em Êxtase, coletiva de Giulia Bianchi, Mirela Cabral e Paula Scavazzini

21 de outubro de 2023 | 08:37
Giulia Bianchi, Coração, 2023. Óleo sobre tela,155 x 205 cm Giulia Bianchi, Coração, 2023. Óleo sobre tela,155 x 205 cm

Um conto visceral e enigmático, escrito pela celebrada escritora Katherine Mansfield (1888-1923), publicado no Brasil pela editora Antofágica, com imagens de obras de Giulia Bianchi, é o ponto de partida de Êxtase, mostra coletiva de Giulia Bianchi, Mirela Cabral e Paula Scavazzini que a Janaina Torres Galeria inaugura em 28 de outubro, em São Paulo.

Idealizada a partir do conto homônimo (Êxtase, ou Bliss, no original em inglês), o mais aclamado da autora neozelandesa, ícone da literatura moderna, e com curadoria de Bia Coutinho Dias, a exposição traz, em nove pinturas e seis desenhos, um diálogo vivo e pulsante que surge dos trabalhos das três artistas – um “olhar abissal e feminino para o afeto vertiginoso”, onde o ato de criação é uma forma de dar conta da intensidade e do excesso vivenciado por elas, em meio a uma natureza vibrátil que permeia tudo.

“No encontro de artistas abertas ao imprevisto, a visceralidade e o transbordamento revelam, no abismo do gesto, um caminho para a invenção”, aponta Bia Coutinho Dias, no texto curatorial. “Diante do inefável e indizível, a pintura se torna, de maneiras distintas e singulares, o lugar em que o espanto se transfigura em alumbramento”.

Giulia Bianchi_Imóvel e florida ou Bertha Young, 2022, giz pastel sobre papel, 21x30 cm Giulia Bianchi_Imóvel e florida ou Bertha Young, 2022, giz pastel sobre papel, 21×30 cm

Uma poética do êxtase – o “absoluto êxtase”, como descreve Mansfield – se desdobra, assim, nas telas de Giulia Bianchi, nas quais a pintura se forja “como um território do consentimento com o delírio”, em que os gestos impregnam as obras de um aspecto mágico e alucinatório, intensificando o real. Uma intensidade expressiva que se manifesta, além das pinturas a óleo, em desenhos de giz sobre papel, revelando, como em Imóvel e Florida ou Bertha Young (a personagem de Bliss), figuras femininas em estado de suspensão. 

A força do gesto, instaurando uma relação particular com o mundo, compõe o universo pictórico de Mirela Cabral: lampejos imagéticos que evocam sensações múltiplas, como o ruído das cores no ar, o silêncio, uma sombra ou “qualquer coisa que nos faça acordar de um estado de dormência e nos devolva a vertigem clarividente e sensível, o magnífico de se estar vivo”.

Mirela Cabra, Corrimão nº14, Óleo sobre tela, 200 x 280 cm Mirela Cabra, Corrimão nº14, Óleo sobre tela, 200 x 280 cm

O fascínio e a vertigem de uma experiência “em que os sentidos copulam e abrem improváveis frestas na imagem”, como descreve Bia Coutinho Dias, impregnam as telas de Paula Scavazzini, nas quais pinceladas expressivas conferem uma dimensão onírica aos trabalhos, produzindo “um corpo pictórico que pende entre o etéreo e o impalpável, o volátil e o imperativo”.

Paula Scavazzini, Montanha, 2022, óleo sobre tela, 168 x 276 cm 
Paula Scavazzini, Montanha, 2022, óleo sobre tela, 168 x 276 cm

Êxtase apresenta, assim, nas obras de três jovens e promissoras artistas, que compartilham o mesmo pathos geracional, uma profusão de formas, cores e sensações, atualizando fundamentos da pintura moderna e contemporânea e reiterando o poder da arte de lidar com o que sempre escapa, mas que, subitamente, nos engole como o sol do fim de tarde, queimando dentro do peito, “irradiando centelhas para cada partícula, cada extremidade” do corpo, nas palavras de Katherine Mansfield.

Êxtase – Giulia Bianchi, Mirela Cabral e Paula Scavazzini
Curadoria Bia Coutinho Dias
Abertura 28/10, 11h às 17hs
Até 27.01.2024

Janaina Torres Galeria
Rua Vitorino Carmilo, 427
Barra Funda, São Paulo-SP
Funcionamento:
Terça a sexta-feira: 10h às 18h
Sábados: 10h às 16h

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