Apologia de Sócrates, série de fotografias e vídeo, é destaque da mostra individual de Heleno Bernadi na Janaina Torres Galeria, em São Paulo. Fizemos três perguntas ao artista mineiro, que reside no Rio de Janeiro, sobre a obra.
Por que Sócrates? O que seu derretimento nos ensina?
Heleno Bernardi: Este trabalho trata principalmente do pensamento. E das relações que o atravessam. Sócrates surge nesta série por ser um dos fundadores da filosofia ocidental e, talvez, o mais emblemático. O que vemos no vídeo e nas fotos (uma espécie de desconstrução e afogamento do filósofo) tem a ver com a imaterialidade do assunto e é também uma ação inversa (se pensarmos nos processos de arguição adotados pelo filósofo), já que aqui somos nós que o forçamos a dizer algo, através do manuseio, ora carinhoso e depois mais incisivo, de sua cabeça.
A filosofia já viveu dias melhores? Virou sabão?
Talvez… mas acho que o sabão é que está virando filosofia.
Há uma ironia forte nesse trabalho. É uma nova veia aberta?
Curioso este ponto de vista porque não trabalhei diretamente a partir da ironia, embora reconheça que há abertura para esta leitura. Me interessam mais os processos de desconstrução, abordagens críticas e fictícias (principalmente) do que a ironia propriamente dita. Ao mesmo tempo, creio que há um tiro pela culatra na proposta de fazer Sócrates nos dizer algo pois ele nos deixa afogá-lo em seu próprio pensamento, nos dá uma massa borbulhante que o encobre mas, por fim, somos nós que desistimos da ação.
Heleno Bernardi – Janaina Torres Galeria
seg – sex de 10h às 19h | sábado de 11h às 15h
Rua Joaquim Antunes 177 | 11 – Pinheiros