Ao longo de cinco páginas da revista Artnexus [dezembro/22], a historiadora da arte Carol Damian traçou um perfil do artista Andrey Guaianá Ziggnatto, comentando sua trajetória institucional no Brasil e exterior e apontando para as principais questões que atravessam seu trabalho.
De origem guaraní mby’a pelo lado materno e tupinaky’ia gûaîná pelo lado paterno, Zignnatto vem problematizando, em várias de suas produções, a questão do território sobre o qual se ergueu a cidade de São Paulo e o apagamento sofrido pelos povos originários dessa região.
“A destruição cultural imposta por muitos anos por poderes coloniais e nacionais exclui uma mensagem positiva dos Guarani, que este artista aborda com uma perspectiva honesta e exclusiva, como membro do grupo, não como um estranho. Embora as definições e descrições atribuídas a seu povo e a outros grupos indígenas sejam frequentemente negadas, seu povo existe hoje. Eles não estão extintos ou escondidos nas selvas da Amazônia. Ele diz que sua aldeia é construída sobre laços afetivos e espirituais, não sobre os contratos sociais da sociedade urbana”, escreve Damian.
No aspecto da materialidade, a experiência do artista na construção civil também aparece como um elemento chave de sua produção. “A diversidade de mídias empregadas por Zignnatto vai de trabalhos em papel a objetos tecidos com os materiais industriais que lhe são familiares, uma vez que trabalhou com seu avô na adolescência, assentando tijolos. Seu uso de outros materiais comuns, como sacos de cimento, concentra-se na capacidade de trabalhar com as mãos para construir grandes instalações e outros projetos que sirvam num processo de reconstrução e recuperação”.
O uso do pigmento vermelho urucum é o grande destaque no texto de Carol Damian; a autora aponta para a simbologia desse material e a relação que ele estabelece, na produção de Andrey Guaianá Zignnatto, com os tons mais baixos usualmente empregados pelo artista.
“O urucum de cor vermelha em seus braços e nas imagens de suas mãos pintadas indica o acesso para ver sua obra e constitui uma aceitação, tornando-se um instrumento de proteção e criatividade. […] Conhecida por seu nome tupi original, uruku, urucu ou urucum (cor vermelha), a casca da semente libera uma tinta vermelha que é usada para pintura corporal. O trabalho de Zignnatto costuma ser monocromático: marrons, cinzas e tons de terra refletem sua dedicação à natureza. A interrupção produzida em muitas superfícies por marcas vermelhas aumenta ainda mais a importância do corante e do próprio trabalho dentro de um contexto ritual. […] As marcas do urucum vermelho funcionam como ruídos visuais da modernidade que interrompem a quietude de um ritual meditativo”.
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