O espaço de trabalho é importante para um artista? Tem relação direta com o resultado? No caso de Sandra Mazzini, que em meados do ano passado trocou um espaço coletivo na Unesp, na Barra Funda, por um ateliê individual na Pompéia, também em São Paulo, a resposta é sim. Se, na visão dela, tantos artistas trabalham na rua ou vivenciam imersões na relação entre as pessoas, coletando objetos ou escrevendo, para Sandra o ato de dirigir-se à solidão (relativa) de um ateliê é fundamental. “Na minha prática, identifico a necessidade de um espaço onde se centraliza a prática, reflexão e depuração da pintura”, diz a artista, cercada de telas e plantas, nessa entrevista em que explora a relação do local de produção da sua arte com o resultado pretendido – pinturas que oscilam entre o deslumbre visual e a milimétrica composição racional.
O que mudou na sua arte com a mudança de um espaço coletivo para um ateliê individual?
A mudança de ateliê acompanhou uma mudança de relação com a pintura. Ela veio no momento em que sinto a necessidade de aprofundar a pesquisa que iniciei alguns anos atrás. Nesse novo espaço, trabalho sozinha, o que é inédito pra mim e permite imersões no processo que até então não tinha experimentado. Sou uma pessoa notívaga, gosto do silêncio e acho que a madrugada ajuda a me concentrar. No ateliê novo sinto que não só criei mais intimidade com meu trabalho, quanto tenho liberdade para entender algumas características que são particulares do meu processo criativo.
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Qual sua rotina no novo ateliê?
Todos os dias eu chego durante a tarde, passo um café e limpo a paleta do dia anterior. Não demoro muito pra começar a pintar. Depois de 2 ou 3 horas o traço começa a ficar mais fluido e em 5 ou 6 horas são as ideias para o uso das cores que ganham mais fluidez. A partir desse momento sinto que tudo passa a ter mais qualidade e costumo só parar quando já está amanhecendo. Gosto dessa rotina. Meu trabalho tem a ver com a fragmentação e mapeamento de gestos e humores dentro de uma mesma pintura, ter um espaço para entender e explorar isso tem sido fundamental. Tudo então passa a ter um sentido. Tenho muitas plantas no meu ateliê porque gosto de observar elas mudando gradativamente – existe no meu trabalho esse mesmo tempo e movimento. No meio das plantas, há muitas réguas, esquadros, transferidores, trenas – são os objetos que circundam o trabalho e que dizem muito sobre ele.
Sente falta da troca do espaço coletivo na Unesp? Havia que tipo de troca junto a tantos jovens artistas?
Participei por 3 anos de uma residência no ateliê 509 do instituto de arte da Unesp, onde partilhava o espaço com mais 10 artistas. Havia troca não só entre os artistas residentes, mas também com os estudantes do instituto, tanto de graduação quanto de mestrado e doutorado. Aconteciam visitas ao espaço durante aulas sobre processo criativo ou pintura tornando o espaço dinâmico com uma circulação de pessoas constante. Era interessante a sensação de, em uma instituição de ensino, ter pessoas acompanhando todo o processo da pintura, desde a preparo da base até as últimas camadas – nesse contexto era comum ter estudantes dos primeiros anos de pintura perguntando sobre materiais, solventes e técnicas até mestrandos na área de mídia questionando sobre como é pintar hoje, se as novas tecnologias afetam ou não o processo criativo. Para um período de formação foi um espaço essencial para provocar questionamentos e trocar experiências.