Em Hy Brazil, uma obra inédita, Daniel Jablonski investiga as narrativas por trás de uma ilha fantasma situada na costa da Irlanda. Chamada Brazil (ou Hy Bressail, O’Brazil, Brazil, Bracil, Bracir, entre outras variantes) muito antes da descoberta do país sul-americano, a ilha esteve presente em praticamente todos os mapas náuticos entre 1325 a 1870. Foi apenas no fim do século 19, após inúmeras tentativas frustradas de encontrá-la, que a cartografia moderna determinou que ela havia sido confundida com um simples rochedo presente naquela região.
Nesse meio tempo, Hy Brazil ocupou um lugar privilegiado na imaginação popular, surgindo em diversas narrativas como um lugar maravilhoso, porém inalcançável. Sua presença atestada nos mapas deu origem à diversas teorias sobre a misteriosa ilha e seus habitantes; falou-se tanto de uma civilização avançada, moral e tecnologicamente, quanto do local de origem de povos milenares. A impossibilidade de encontrá-la foi, ainda, explicada alternadamente por uma maldição envolvendo a ilha em uma espessa bruma, ou por sua própria natureza alagadiça, fazendo dela uma espécie de Atlântida moderna.
A obra Hy Brazil constitui-se de seis fotografias no formato 37,5 x 60 cm impressas em metacrilato, simulando a textura vítrea da tela do computador. Elas exibem capturas de tela com os resultados de uma extensa pesquisa feita na Internet sobre a ilha mítica. Com isso, pretende-se apontar para o uso da palavra “Brazil” (e suas variantes) como um significante essencialmente vazio, podendo acomodar visões absolutamente contraditórias entre si. Mesmo sem uma existência real, a ilha Brasil existe como pura referência, sendo citada inúmeras vezes na poesia, pintura, literatura, mitologia e até mesmo na ufologia.
Still Brazil
Por este prisma, a obra dá sequência ao projeto Still Brazil, de 2017-8, que reuniu centenas de capturas de telas de filmes estrangeiros com menções arbitrárias ao país sul-americano de mesmo nome. O projeto Still Brazil foi exibido no Paço das Artes (São Paulo) e no Centro Cultural Justiça Federal CCJF (Rio de Janeiro) e em outubro será mostrado no Espaço ArtNexus, em Bogotá.
Hy Brazil dá um passo além, ao introduzir um questionamento sobre seu próprio suporte: a Internet. Ao apresentar milhares de resultados a respeito de algo que inexiste, a rede mundial de computadores aparece como uma ferramenta ideal para a difusão de novas e velhas mitologias. No espaço resolutamente moderno da computação – e dos seus programas de ponta de edição de texto, imagem e video -, persistem, proliferam e florescem os mais primitivos fantasmas do desejo e da imaginação.