Projeto curatorial para nossa participação na ArtRio 2020.
Simbolicamente, de onde e para qual lugar esse novo tempo nos chama?
Creio ser válida a tentativa de, por um momento, abandonar as noções da história objetiva ou de qualquer convenção da ciência antropológica para, dentre tantos ressignificados atuais, compreender a experiência artística circunscrita nos limites de um “tempo-lugar” indeterminado e, portanto, não classificável, só possível no campo dos sentidos e do simbólico.
Sim, continuaríamos a explorar a diversidade das técnicas e alcançar suportes inimagináveis para desenvolver a visualidade poética, ampliando e revendo conceitos sobre a função da Arte. Porém, imaginar um “tempo-lugar” que sugere o despojamento de expectativas condicionadas à nossa realidade seria uma brecha para estabelecer novas bases de reconstrução da visão de uma sociedade.
O conjunto de obras dos artistas Andrey Zignnatto, Ricardo Siri e Sandra Mazzini, aqui reunido para esta edição comemorativa dos 10 anos da ArtRio, ocupa-se tanto com imagens internas de seus autores como seus respectivos imaginários coletivos .
A galeria traz como projeto especial a apresentação das instalações “Alicerce”, de Andrey Zignnatto e “Ninho”, de Ricardo Siri. Dentro das suas particularidades, ambas instalações carregam o sentido de abrigo, encontro e convivência. Suas configurações construtivas partem de referências culturais de um tempo passado e que implicam em certa vulnerabilidade.
“Alicerce” e “Ninho”, assim como todas as instalações interativas, são um sistema vivo que, para além das suas concepções estéticas, só se completam com as trocas e as correspondências que virão a ser elaboradas pelo público. Na sua sequência e, a partir desta percepção, se dará a transformação de um espaço determinado para a sensação de tempo-lugar vivido, onde todos, no nosso arcabouço utópico, sairemos restaurados.
Heloisa Amaral Peixoto
Curadora
Outubro 2020